quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

DA SURRA EM CASA PARA A DELEGACIA

As surras eram constantes. Por motivos até injustificáveis. Minha mãe me agredia pelo prazer de me agredir, para descarregar a raiva que sentia dos outros. Eu não era filha dela e sim um saco de pancadas, esses sacos que lutadores de boxe usam para treinar os golpes da luta.


Como eram essas surras? Com o que ela batia?


Parece até que tinha hora certa para isso, eu olhava para o relógio que marcava 15hs. Isso mesmo. 15hs eu começava a ser agredida pela minha mãe. O motivo era injustificável ou simplesmente não existia. Eu era agredida e ponto final.


Uma delas eu posso relatar com requintes de frieza talvez, ou com sofrimento em cada palavra digitada aqui. Mas é como se fosse hoje eu lembro com os detalhes de dor mesmo,minhas lágrimas até hoje saem dos meus olhos quando lembro desse episódio.


Em agosto de 1984 as 15hs estava brincando no quintal, quando minha mãe gritou o meu nome, ela era assim mesmo. Ela não me chamava ela gritava mesmo. Como um senhor de escravos com seus escravos, algozes com seu prisioneiro e por aí vai.


Eu fiquei com medo porque eu sabia que quando ela gritava o meu nome era para me bater outra vez. Ela nem queria saber de ouvir minhas explicações ou minhas perguntas no qual ela estava com raiva. Já ia me batendo com objetos que tinha na mão.


Todo dia no horário citado ela me batia com cabo de vassoura, cintos do meu pai, chuveirinho do banheiro, cabide, salto de sapato, chinelo, panela, enfim, tudo o que estava na mão dela. Claro que essas surras me deixavam com hematomas, ferimentos, enfim essas coisas.


Nesse dia citado, quando fui até ela para ser agredida, foi a pior de todas as agressões, foi na sala mesmo. Ao invés de chorar eu gritava mas gritava mesmo para todo mundo ouvir minhas surras. Até que aconteceu o pior que jamais estava esperando dela. Ela me tentou esganar para eu parar de gritar, mas foi em vão. Então ela me sufocou com uma almofada do sofá. E ela gritando "Cala a boca, se não eu te mato", ela disse bem alto. 


Mas o que ela não sabia que a minha casa era geminada, e a minha casa era no meio de duas casas. As vizinhas naquele dia estavam em casa e provavelmente ouviram tudo o que minha mãe dizia e meus sofrimentos.


Por que das agressões - NOTA BAIXA NA ESCOLA, PERDER MATERIAIS ESCOLARES, ESQUECER ALGO NA ESCOLA, SUJAR UNIFORME, VOLTAR PARA CASA COM TÊNIS DESAMARRADO, NÃO FAZER O QUE ELA PEDIA, NÃO ATENDER OS CHAMADOS DELA, NÃO LIMPAR O QUE ELA PEDIA E QUANDO LIMPAR, NÃO ESTAR DO JEITO QUE ELA QUER, NÃO FAZER OS DEVERES DE CASA, ERRAR AS CONTAS DE MATEMÁTICA, NÃO TRAZER O TROCO CERTO PARA ELA QUANDO IA COMPRAR ALGO PARA ELA, DEMORAR PARA CHEGAR EM CASA. SÃO VÁRIOS OS MOTIVOS, BOBOS NÉ????


Agora essa agressão terminou com o toque da campainha e quando ela foi ver o que era, parece que ela ficou assustada ou surpresa. E eu continuando a chorar com dores em todo o corpo e ela mandou eu sumir de perto dela. 


Me levou para o banheiro para eu lavar o rosto e depois me levou para o quarto e mandou eu ficar lá até que eu fosse chamada por ela. 


Então eu fiquei brincando quieta com muitas dores no corpo com as minhas bonecas. Acho até que eu não consegui brincar fiquei sentada apoiada na parede fria com muita dor mesmo e chorando baixinho de dor com a cabeça no joelho.


Era a polícia que tinha tocado a campainha juntamente com uma assistente social. Logicamente que minha mãe atendeu e recepcionou a visita inesperada.


Quando minha mãe adentrou no meu quarto eu já esperava outra surra dela e mais nada. Ela mandou eu me levantar e eu levantei com muita dor no corpo. Ela jogou na cama o abrigo e calça para eu vestir e ela dizia "Vista isso e tem mais. Pare de chorar, cala essa boca. E se me disser que apanhou hoje para o seu pai e para a polícia eu te mato!". E eu com medo, fiz o que ela pediu e foi aí que eu aprendi a mentir com ela.


Se criança não sabe mentir, eu tive que aprender. Mas dentro de mim achava isso um absurdo, minha mãe nunca gostou de mentiras, por que eu tinha que mentir ali mesmo?


Menti para a assistente social, para o delegado, para os guardar e para o meu pai foi difícil eu esconder, mas tinha q esconder, enfim menti para todo mundo.


Não por causa da minha mãe não, era porque eu não queria que ninguém soubesse das agressões. E isso eu carreguei até hoje quando estou postando esse episódio.


Não estou publicando porque acho lindo, normal, nada disso. 


Sei que hoje tem Estatuto da Criança e do Adolescente, tem leis que protegem as crianças de pais que maltratam os filhos. 


Isso foi um alívio para mim que pedia nas minhas orações que houvesse algo para proteger as crianças de agressões diversas. E fui atendida.


Mas o trauma dessas agressões que sofria estão na minha alma.

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